Última alteração: 22-12-2023
Resumo
Embora novos dados e metodologias estejam ganhando espaço no campo da taxonomia, a grande maioria das espécies de isópodos terrestres ainda é descrita com base apenas na morfologia. O gênero Benthana foi recentemente revisado e atualmente compreende um grupo monofilético de 28 espécies que ocorrem no sul da América do Sul. No entanto, a ampla distribuição geográfica de algumas das espécies, aliada à presença de poucos caracteres diagnósticos, levanta dúvidas sobre a validade das espécies descritas. O objetivo deste estudo foi avaliar a utilidade do DNA barcoding, uma abordagem que utiliza uma sequência do gene COI presente no DNA mitocondrial como um sistema de "bioidentificação", semelhante a códigos de barras, para determinar a congruência entre a identificação morfológica e molecular das espécies pertencentes ao gênero Benthana. Ao todo, foram analisados 72 indivíduos pertencentes a 13 espécies de Benthana provenientes da coleção científica do Laboratório de Carcinologia da UFRGS. As extrações de DNA foram realizadas utilizando kit de extração e, em seguida, as amostras foram amplificadas e enviadas para sequenciamento. As sequências obtidas foram visualmente inspecionadas e alinhadas utilizando-se o algoritmo Muscle no programa MEGA 11. Distâncias genéticas intra e interespecíficas foram calculadas utilizando o modelo Kimura-2-parâmetros no mesmo programa. As árvores filogenéticas foram construídas com o método de máxima verossimilhança no programa MEGA 11, usando um suporte nodal estimado por 1.000 réplicas de bootstrap e o modelo evolutivo GTR+G+I. Como grupo externo foram utilizadas sequências de outras espécies de isópodos terrestres disponíveis no banco de dados do GenBank. Ao todo, foram obtidas 24 sequências pertencentes a dez espécies de Benthana, devido ao mal estado de conservação de algumas amostras. A filogenia molecular gerada demonstrou que Benthana compõem um grupo parafilético, ou seja, não forma um agrupamento biológico verdadeiro. Até mesmo em nível específico foram observados táxons parafiléticos, como no caso de B. sulcata e B. taeniata. Em relação às distâncias genéticas, observamos distâncias intraespecíficas baixas (zero a 0,72%) e distâncias interespecíficas muito altas (16,3 a 43,8%). Nossos resultados mostram que a análise molecular não corrobora a taxonomia atual de Benthana, que é baseada apenas na morfologia. Portanto, é imperativo reavaliar a sistemática desse gênero, incorporando uma variedade de ferramentas e diferentes fontes de evidência taxonômica.