Portal de Eventos do IFRS, 7º SALÃO DE PESQUISA, EXTENSÃO E ENSINO DO IFRS

Tamanho da fonte: 
Hortas escolares agroecológicas: da tela para terra em escolas indígenas e convencionais
Gabriele Nunes Motta, Claudio Fioreze

Última alteração: 17-11-2022

Resumo


A sociedade tecnológica traz consigo diversos impactos psicossociais em todas as gerações, fazendo-os por vezes esquecer o chão que pisam e o contexto maior que os rodeia. Nas escolas, o processo “da tela para a terra” pode ser um meio de resgatar o vínculo com a nutrição do corpo e da mente dos jovens. A questão da perda de conhecimento e contato com a terra, decorrente da urbanização e do excesso de tela, preocupa as lideranças Mbya-Guarani. Nas escolas indígenas a percepção de tempo é diferente, mais espaçada e dialogada devido ao modo de vida. O Programa EcoViamão (Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica de Viamão e Entorno) desenvolve, entre outros, o projeto de extensão Hortas Escolares Agroecológicas para promover a segurança alimentar, a cooperação e a educação ambiental. O trabalho foi realizado, neste ano, nas 31 escolas da rede de ensino estadual de Viamão, incluindo as três escolas indígenas (E.I) da etnia Mbya Guarani. As visitas são realizadas semanalmente (urbanas) e quinzenalmente (rurais) para que se estabeleça um vínculo com as comunidades. O impacto institucional é positivo quando alinhado ao diálogo respeitoso dos conhecimentos acadêmicos e populares. As especificidades são consideradas e ouvidas cooperativamente, buscando agir a partir de ações coerentes com as realidades. Na E.I Karai Arandu/Cantagalo, idealiza-se construir um viveiro voltado a plantas artesanais, como a taquara-mansa, enquanto na E.I Nhamandu Nhemopuã/Itapuã, a comunidade acolheu a ideia de cultivar uma pequena agrofloresta, com bananeiras, plantas tradicionais e hortaliças como repolho, couve, salsa, etc. Nas escolas convencionais, a medida inicial é um mutirão de limpeza e a composteira, seguida de canteiros, plantio direto de hortaliças, relógio do corpo humano e espiral de ervas, tudo gradativamente, florescendo hábitos sustentáveis. As composteiras são consideradas um pouco estranhas à cultura guarani, que até hoje não convive bem com resíduos modernos como plásticos, latas, vidros, etc. É notória a transformação comportamental inicial dos alunos, tais como maior entusiasmo, concentração, alguma mudança de hábitos alimentares e melhorias comportamentais (inclusive uma comunicação não violenta), entre outros.  Felizmente as idas têm sido bem recepcionadas pelos kyringuè (crianças). As hortas representam um processo de transição que transforma a realidade da comunidade mesmo em diferentes etnias, sob o olhar da extensão popular. Este projeto é de longo prazo, visto que demanda um processo de aprendizagem contínua e aplicação das teorias e práticas dialeticamente. Espera-se também ajudar a resgatar a prática da agricultura ancestral Mbya-Guarani, contribuindo para a construção da ciência da Agroecologia de modo que se desenvolvam saberes inovadores, respeitosos, harmônicos e que entrelacem os diferentes modos de vida de forma realmente sustentável.



Palavras-chave


Mbya-Guarani; Ancestralidade; Educação ambiental.

Texto completo: PDF