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Nem tão lo-fi, nem tão hip-hop: compreendendo o lofi hip hop como música ambiente
André Santos Marchese, Marcelo Bergamin Conter, Christian Langaro Vaisz

Última alteração: 21-11-2022

Resumo



O objeto deste estudo é o lofi hip hop, gênero que se popularizou no YouTube e que tem sido instrumentalizado para servir de pano de fundo para atividades de trabalho, estudo e relaxamento. Embora raramente sejam apresentadas ou compreendidas como obras de ambient music, as músicas lofi hip hop se aproximam da proposta deste gênero, por serem composições construídas para possuírem poucas variações rítmicas e melódicas. Portanto, o objetivo desta investigação é observar o lofi hip hop a partir das premissas do que constitui-se como ambient music. A relevância deste estudo está na compreensão de novos hábitos de escuta que estão tomando forma por meio do consumo de música no YouTube, o que consequentemente está modificando os modos de produção fonográfica. No caso estudado em particular, nota-se no lofi hip hop um processo de desterritorialização dos signos habituais do hip hop, bem como o aumento no consumo de música ambiente por meio do You Tube nos últimos 5 anos. A metodologia empregada possui abordagens tanto comparativas quanto qualitativas das sonoridades, para compreender como delas decorrem novos modos de escuta e semioses afetivas que expandem as possibilidades da música ambiente. Para isto, estamos mapeando os modos de produção do lofi hip hop, em especial tutoriais em vídeo de produção do gênero. Os tutoriais não só "ensinam a fazer": eles também transparecem as condições de produção do lofi hip hop. Analisamos alguns destes tutoriais, produzidos por brasileiros e anglófonos. É válido pontuar que alguns dos tutoriais anglófonos apresentam patrocínios, o que não ocorre com os brasileiros, indicando um certo grau de precariedade que a produção musical de lofi hip hop como única fonte de renda sofre dentro da  plataforma. Além do pontuado previamente, esta análise indicou a presença de sonoridades de baixa fidelidade e resolução, como a equalização com cortes de agudos, além de progressões de jazz e percussões estilo boom bap. Ou seja, este gênero possui aspectos estéticos relacionados à agenciamentos de baixa definição sonora, mas produzidos a partir de softwares em um contexto hi-fi (de alta definição). O efeito de baixa fidelidade é produzido a partir do uso de plugins que simulam efeitos analógicos. Tais características sonoras também são encontradas nos gêneros ligados ao hip-hop, que muitas vezes está estruturado em beats construídos a partir de samples extraídos de discos de vinil. Esta análise nos leva à seguinte hipótese: se tanto o lo-fi quanto o hip-hop possuem agenciamentos de baixa definição, as principais diferenças destes gêneros para o recente lofi hip hop são as características de ambient music que estão expressas neste gênero. Como conclusões parciais, compreendemos que o lofi hip hop seria, portanto, muito mais uma nova expressão do ambient music do que uma fusão entre lo-fi e hip-hop.


Palavras-chave


lofi hip hop; semiótica; tutoriais.

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