Última alteração: 17-11-2022
Resumo
O projeto Contantes, do IFRS Campus Rolante, tem como seu objetivo inicial a formação de leitores, mediadores e contadores de histórias, mas, nesta trajetória, o projeto tem ido muito mais além, constituindo uma rede colaborativa de pessoas que entendem a literatura enquanto uma experiência. Cabe dizer que estamos considerando “pessoa” não no sentido literal da palavra, mas sim em “pessoa” como abstração do ser, no singular da existência humana. A construção do ser e da subjetividade - sendo ela entendida como o espaço íntimo do indivíduo - é feita a partir das experiências e de suas trocas. Em 2020 e 2021, essas interlocuções foram cruciais para o desenvolvimento do projeto, quando participaram como convidados os autores Anna Claudia Ramos, Antônio Schimeneck, Sonia Rosa, Heloisa Prieto e Milene Barazzetti que, a cada encontro virtual, compartilharam suas experiências singulares com os participantes do projeto. Com o intuito de esclarecer a “experiência” aqui citada, partiremos da concepção do filósofo e educador Jorge Larrosa. O autor propõe a exploração do pensar a partir do par experiência/sentido. Larrosa descreve a experiência como algo que nos toca, o que nos passa e nos acontece. Não sendo apenas o que toca, se passa ou que de fato acontece. Dessa forma, a experiência está diretamente relacionada com a formação do ser e de sua subjetividade, pois se apresenta mediante a vida humana e ao conhecimento, sendo ela intensa, singular e única. Mesmo que passem pelos mesmos eventos, nenhum ser humano passará pela mesma experiência que o outro. Larrosa afirma também a imaginação como o caminho essencial para o aprendizado, pois é um elemento potente, podendo criar e/ou transformar realidades. Ao declarar o poder da imaginação, o autor define o papel formativo da leitura em dois sentidos: a formação como leitura e a leitura como formação. De modo geral, a formação como leitura está relacionada à produção de sentido, enquanto a leitura como formação está relacionada à subjetividade do leitor. Podemos refletir a leitura como formação no modo como o sujeito se relaciona com o conhecimento ao retomar a ideia da experiência, não sendo ela como uma apropriação do texto, mas de abertura para ele. Seguindo para o segundo passo, a formação de leitura se revela a partir do leitor ser tocado pelo texto e tenha a capacidade de entender o que o texto tem a lhe dizer, voltando-se novamente à experiência. No contexto geral, essa tem sido a estratégia adotada no Contantes, colaborar no sentido de que seus participantes se autoconheçam para que assim consigam trilhar o caminho de sua subjetividade enquanto mediadores de leitura, refletindo sobre suas próprias experiências e aquelas compartilhadas ao longo do projeto.