Última alteração: 21-11-2022
Resumo
O período conhecido como Guerra Fria se refletiu na implantação de ditaduras civil-militares nos países do Conesul. Instituindo uma política de terrorismo de estado, com base na perspectiva da necessidade de eliminação de um inimigo interno, o governo desses países praticou uma série de crimes contra seus cidadãos, como por exemplo a tortura e o assassinato. No intuito de que tais atrocidades não venham a se repetir, o cinema pode ser uma ferramenta importante para fomentar a reflexão sobre este período e, ciente deste fato, o presente estudo visa observar de que modo os filmes abordam a infância durante as ditaduras de Segurança Nacional foram analisados três filmes: O ano em que meus pais saíram de férias (2006), Kamchatka (2002) e Infância Clandestina (2011). Os filmes foram analisados, observando não apenas as características dos protagonistas, o roteiro e as cenas em que as crianças recebem destaque. Assim, as cenas foram fichadas, avaliando de que modo a situação de repressão atinge as crianças, como estas vivenciam as mudanças em seu cotidiano. Deste modo, foi possível identificar que as três obras selecionadas apresentam meninos que experimentam diretamente a violência do período ditatorial: todos são filhos de militantes que se opõem ao regime e que precisam fugir ou viver de forma clandestina. A produção brasileira de 2006 tem como protagonista Mauro, um garoto em torno dos dez anos de idade que adora futebol e que acaba ficando sozinho quando os pais o deixam com o avô que acaba por falecer. O menino precisa desenvolver uma série de habilidades, como cozinhar ou arrumar o apartamento, enquanto o vizinho de seu avô procura por notícias de seus pais. Já em Infância Clandestina (2011), o menino Juan, que vivencia um momento de transição para a adolescência, está escondido com seus pais e irmã em uma casa discreta e precisa fingir que é outra pessoa para proteger sua família. Harry, protagonista do filme Kamchatka (2002) precisa fugir com os pais e se esconder em um local afastado, nos arredores de Buenos Aires, onde convivem intensamente. Todos os filmes mobilizam elementos relativos à ludicidade própria da infância, como o desejo de ser jogador de futebol, o fascínio por magia ou história em quadrinhos. Entretanto, são exatamente esses aspectos que tornam mais terrível os crimes cometidos pela ditadura, uma vez que essas crianças que perdem seu entes queridos, mortos ou desaparecidos. Deste modo, a pesquisa evidenciou que o cinema é um instrumento potente para a memória sobre este período e que o uso de protagonistas crianças pode auxiliar na sensibilização em relação aos crimes destes governo autoritário, para que tal não volte a se repetir.