Última alteração: 21-11-2022
Resumo
A maconha (Cannabis) foi proibida no Brasil na década de 1930, tendo como base principalmente argumentos racistas e pseudocientíficos. Desde então, há uma manutenção desta proibição que, frente aos estudos recentes, é incoerente, principalmente em um país onde o álcool e o tabaco são drogas lícitas. Além de ser menos nociva do que estas substâncias, a maconha possui propriedades terapêuticas no tratamento de condições de saúde; a exemplo, comprovou-se que, nos Estados Unidos, houve uma diminuição do uso de opioides nos estados onde a Cannabis foi legalizada. Apesar da política proibicionista adotada pelo governo, a discussão sobre o uso medicinal da maconha no Brasil está avançando, principalmente por estudos movidos por institutos de pesquisa brasileiros e estrangeiros. Com as flexibilizações nas leis sendo cada vez mais frequentes, empresas e organizações estão produzindo e distribuindo legalmente a maconha e seus derivados sob prescrição médica. Em contrapartida, pouco se avançou nas questões relacionadas ao uso adulto/psicodélico da planta — a lei ainda não faz uma distinção clara entre traficante e usuário, de forma que o julgamento baseia-se em critérios subjetivos. Como uma das consequências disso, pessoas negras são os mais condenados no Brasil por tráfico com menor quantidade de drogas. Parte do problema é a falta de conhecimento fundamentado da população, visto que é muito comum termos informações erradas sobre drogas sendo veiculadas, inclusive nas escolas, por meio de iniciativas como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD). As grandes mídias têm um papel fundamental na formação intelectual da população, principalmente em um contexto de menor favorecimento econômico, que vem em sua maioria acompanhado da falta de instrução; por isso torna-se de suma importância a análise dos discursos adotados pela imprensa. Esta pesquisa documental de natureza qualitativa, ainda em andamento, propõe-se a identificar e analisar os discursos sobre maconha entre os anos 2017 e 2022 do “Fantástico”, programa de grande audiência da Rede Globo, utilizando-se conceito Foucaultiano de discurso. O recorte temporal analisado foi escolhido por conta da limitação da plataforma “GloboPlay” que contava com reportagens até o ano de 2017, porém é de grande interesse expandir este intervalo. Foi possível observar uma forte narrativa a favor do uso terapêutico da maconha, com reportagens dedicadas a desmistificação, apresentação dos benefícios da “Cannabis medicinal” e famílias que utilizam da planta legalmente, ao passo que o uso recreativo da maconha é raramente abordado. O programa parece distinguir a maconha usada para fins terapêuticos da maconha usada recreativamente, como se não fossem a mesma planta; ainda, nota-se uma “demonização” do uso adulto da droga.