O cotidiano é o comum a todos os dias, diário. Para as ciências sociais ele tem cargas socioculturais e o estudo dele surge em momentos de crise. É nele que ocorre a construção de uma rotina, que desde a educação infantil é considerada a estrutura básica, essencial para o desenvolvimento social da criança, além de proporcionar estabilidade e segurança. A pandemia de COVID-19 afetou mais de 1,6 bilhões de estudantes mundialmente, os tirou de seus espaços de aprendizagem conhecidos, quebrou vínculos com colegas e educadores, impactando negativamente no cotidiano dos jovens. Na cidade de Alvorada, em que apenas 9,7% da população tinha emprego formal em 2019, foram mais de 36 mil casos confirmados da doença. O objetivo deste estudo é verificar os efeitos da pandemia no cotidiano de estudantes do IFRS Campus Alvorada. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, descritiva e transversal, que possui aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do IFRS e autorização do IFRS Campus Alvorada para a sua realização. A coleta de dados ocorreu em julho de 2021 através de um questionário online autoaplicável. Participaram até o momento 259 estudantes entre 15 e 66 anos. A maior parte da amostra (42,1%) respondeu que possui renda até 2 salários mínimos e 64,9% apontaram que sua renda foi afetada (reduzida) durante a pandemia. Durante o distanciamento social, 36,7% passaram por alguma dificuldade financeira ou falta de alimentos, água, luz ou outros itens de necessidade básica que não passavam antes. Ainda, 83% responderam que estavam sendo afetados por impactos causados pela pandemia do COVID-19 no momento em que preenchiam o questionário. Ao serem questionados sobre a natureza desse impacto, as mais citadas foram problemas de saúde física e/ou mental, seguido de morte de alguém próximo, sendo que 51% perderam pessoas próximas. Dos participantes, 53,6% costumam pesquisar notícias sobre a COVID-19 diariamente e 69,1% referiram estarem muito preocupados com a doença. Ainda sobre impactos no cotidiano, 85,7% relataram que em algum grau acharam difícil ter iniciativa para fazer as coisas durante a pandemia e 77,7% em algum grau tiveram a tendência de reagir de forma exagerada às situações. Contata-se que a pandemia impactou negativamente as famílias alvoradenses que já tinham rendas baixas, perderam emprego ou tiveram a renda diminuída e, junto com as altas de preços (frutos de uma inflação em alta, desvalorização do Real e a presente crise econômica), trazem a falta de mantimentos essenciais afetando as estruturas familiares. A queda no número de consultas e exames regulares e diminuição nos exercícios diários, bem como sequelas da COVID-19 deterioram o físico. O luto, a ansiedade com as más notícias diárias, os protocolos de segurança inconstantes e as incertezas com o futuro impactam o psicológico. Espera-se que a pesquisa contribua com ações para a melhoria da qualidade de vida dos estudantes e construção de uma rede de apoio para que possam se estabelecer em rotinas saudáveis.