Última alteração: 12-11-2021
Resumo
Com bases históricas na modernidade, uma mundialização cultural foi imposta globalmente, com o processo exploratório, por matrizes europeias nos continentes africano, americano e asiático. Através de um conjunto de relações interdependentes de poder, foi forçada uma exclusão da subjetividade dos sujeitos e das interações não arbitrárias entre as diversidades. Assim, como forma de resistência a esse processo colonial, foi fecundada a reconfiguração dos limites entre centro e periferia. Dessa forma, surge como resposta necessária à promessa de progresso da modernidade a literatura do “entrelugar” pelo viés da decolonialidade. A partir do exposto, dentre obras brasileiras contemporâneas com aspectos disruptivos, este trabalho toma por base e objetiva realizar uma análise literária da narrativa “Não vão nos matar agora”, de autoria da artista multidisciplinar Jota Mombaça, utilizando-se, da perspectiva decolonial e, mais especificamente, fazendo uso dos conceitos de subjetivação e de fecundação dos limites das zonas de descentramento pela desobediência epistêmica. Ademais, elaborar uma proposta de intervenção pedagógica que tome como base a literatura brasileira contemporânea sob um olhar decolonial. Com uma abordagem qualitativa, a metodologia envolveu, em um primeiro momento, a coleta bibliográfica teórico-crítica acerca da temática decolonial em vista de grupos marginalizados. Posteriormente, foi definido o corpus de análise literária pelas questões políticas da representatividade do corpo apresentadas, como também, considerando a necessidade de se reafirmar a entrada de novos grupos sociais na literatura para preservação de espaços democráticos, fase que está atualmente sendo desenvolvida. Por fim, como etapa final, busca-se realizar uma pesquisa em educação, para aplicação desses conceitos que tome como base a literatura brasileira contemporânea sob uma pedagogia decolonial, com uma abordagem de ensino na qual ocorra a troca de saberes, bem como a (re)construção de um processo sociopolítico transformativo baseado nas realidades, subjetividades históricas e lutas de grupos minorizados. Até o presente momento, os resultados coletados possibilitam afirmar que a obra analisada oportuniza, pelo campo da arte literária, a problematização da polarização entre indivíduo e sociedade, dentro e fora, centro e periferia, trazendo uma visão de enfrentamento e resistência à política da exclusão a partir da noção de entrelugar identitário. Ademais, podemos pontuar que Mombaça coloca em questão a cultura como luta política frente à colonização realizada, tanto no plano externo, como também inserida no corpo e na psique dos sujeitos. A obra em questão apresenta a corporificação de deslocamento dos sujeitos da modernidade colonial em enfrentamento aos cruzamentos da história e da memória que tangem os acontecimentos coletivos da cultura brasileira. Em síntese, textos literários como o produzido por Jota Mombaça, servem como uma ferramenta de ocupação e de resistência aos questionamentos dos lugares previamente propostos em termos socioculturais agregando-se ao conjunto de obras da literatura brasileira contemporânea cuja perspectiva fronteiriça é almejada como emancipação em luta contra a hegemonia cultural.