Portal de Eventos do IFRS, 6º SALÃO DE PESQUISA, EXTENSÃO E ENSINO DO IFRS

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Portal: os blocos de sensação na obra de My Magical Glowing Lens
Ligia Maria Lasevicius Perissé, Marcelo Bergamin Conter

Última alteração: 18-11-2021

Resumo


Este trabalho objetiva compreender o papel do timbre como um agente de comunicação afetiva. Inspiramo-nos na obra de Deleuze e Guattari, que observam a arte como "a linguagem das sensações" (2010, p. 208) e sugerem ainda que ela é capaz de conservar blocos de sensação na matéria, um composto de perceptos e afectos. Relacionando estes conceitos aos estudos sobre timbre de David Blake e Isabella van Elferen e aos materiais desenvolvidos por Pierre Schaeffer e Michel Chion , sobre a escuta reduzida, e de Jonathan Sterne (2003), sobre a escuta virtuosa, analisamos as performances musicais ao vivo da banda My Magical Glowing Lens disponíveis no YouTube e entrevistas que realizamos com os membros da banda. Nos interessa observar, em especial, os momentos em que a performance ao vivo converge a uma experiência de escuta sem centro de gravidade, onde é recorrente a busca pela criação de paisagens sonoras ricas em parciais harmônicos; ampla utilização de faixas de frequências dentro do espectro sonoro; trechos instrumentais longos e estratificações sonoras. Estes elementos provocam o ouvinte a oscilar entre a escuta reduzida e a escuta virtuosa. A escuta reduzida é a busca pela percepção dos sons somente por suas qualidades sonoras, e que distancia-os de suas fontes originais. A escuta virtuosa, por outro lado, caracteriza-se pela aptidão em perceber e distinguir as nuances do som, incluindo a percepção das materialidades que o originam e afetam. Observamos este processo de oscilação da escuta e de singularização de timbragens presentes na obra da banda My Magical Glowing Lens, em especial na execução ao vivo da música "Portal", no Centro Cultural São Paulo em 2017. O conjunto realiza um trecho instrumental explorando a canção com improvisos onde todos os instrumentos (com exceção da voz e da bateria) realizam variações timbrísticas e abandonam a execução melódica, rítmica e harmônica inicial. Neste momento, as faixas de frequência de cada instrumento se ampliam e se sobrepõem, gerando uma zona de indiscernibilidade dos timbres. Estes trechos evidenciam a experiência de uma escuta sem centro de gravidade e que oscila. Observamos também a formação de timbragens que se atualizam ao vivo, como blocos de sensação na matéria. Como conclusão apontamos que as timbragens que surgem e se modificam nas performances da banda My Magical Glowing Lens, analisadas no presente trabalho, convergem à expansão da virtualidade do timbre, fenômeno característico das semioses afetivas do timbre, bem como à potencialização de estéticas e políticas dentro do rock independente brasileiro.


Palavras-chave


Timbre. Semiótica. Blocos de Sensação.

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