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O conto gaúcho contemporâneo: o que dizem as vozes negras?
Barbara Paiva, Cassiana Grigoletto, Marcel Fernando da Silva

Última alteração: 17-11-2021

Resumo


O presente trabalho vem sendo desenvolvido no escopo do projeto de pesquisa intitulado “A representação do negro na literatura contemporânea”, com fomento interno do IFRS. Este projeto, ancorado nos estudos culturais e pós-coloniais, que possibilitam o questionamento de construções epistêmicas e “verdades” históricas, objetiva dar visibilidade, espaço e voz a uma parcela da população que teve suas identidades, memória e História rasuradas, apagadas ou silenciadas, caso dos negros. Depois de identificada a pouca representatividade dos negros nas literaturas de língua portuguesa, principalmente as afrodiaspóricas, ou mesmo a sua marginalidade estereotipada, o presente projeto investiga como vem sendo construída essa representação do negro na contemporaneidade dessas literaturas. Como dentro desse escopo são possíveis vários recortes, no ano anterior foi realizada uma investigação acerca das obras literárias publicadas nas duas primeiras décadas do século XXI por escritores gaúchos que se predicam negros. Assim, a presente proposta de trabalho dá continuidade a essa investigação, ao promover a análise da produção literária encontrada neste levantamento inicial para verificar que representações e problemáticas vêm sendo construídas, a fim de dar visibilidade a esses discursos e transformar as comunidades negras em sujeitos de sua própria História. Com a análise dessas obras, objetiva-se examinar como o negro vem sendo representado por vozes autorais negras, quais problemáticas, aspectos históricos, memórias, dilemas e inquietações perpassam esses textos. O corpus de análise compreende as obras do gênero conto, publicadas nas últimas décadas (2000 a 2020) por escritores gaúchos que se predicam negros. Como objeto de reflexão foram selecionadas as obras Ainda Orangotangos (2007), de Paulo Scott; Guerrilha e solidão (2008), de Valdomiro Martins; A sordidez das pequenas coisas (2010), Alessandro Garcia; Como se mata uma ilha (2019), de Priscila Pasko; Vila Sapo (2019), de José Falero, e Terra nos cabelos (2020), Tônio Caetano. As categorias analisadas são a predicação negra dos personagens, com ênfase nas problemáticas abordadas, ambientação espaço-temporal das narrativas e o protagonismo das personagens negras. Os resultados obtidos até o momento ainda são parciais, contudo podemos afirmar que há uma subversão da maneira como antes eram construídos tais personagens, que agora passam a ocupar diferentes estratos sociais, ainda que alguns estejam localizados em espaços periféricos. Nos deparamos com narrativas líricas e filosóficas que apresentam as mulheres como protagonistas e outras com ambientação espaço-temporal em momentos históricos marcantes da história Sul-rio-grandense. No entanto, há a preponderância de narrativas que descortinam personagens periféricos na contemporaneidade e em toda a sua complexidade. A realocação do sujeito negro na produção literária gaúcha faz parte de um processo de ressignificação social que lhe permite subverter imagens e sentidos racistas e marginalizantes cristalizados na literatura canônica.


Palavras-chave


Autoria negra. Literatura gaúcha. Literatura contemporânea.

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