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A Vanitas na produção pictórica de mulheres artistas: reflexões sobre a efemeridade e o feminino
Luana Pagel de Mello, Letícia Schneider Ferreira

Última alteração: 10-11-2021

Resumo


As pinturas vanitas são obras de arte moralizantes. Proporcionam reflexões acerca da importância dada pela humanidade à vaidade – o termo em latim, vanitas, vincula-se a “vaidades”. Simultaneamente, expressam também ideias sobre a morte, a efemeridade e a caducidade da matéria orgânica. Popularizaram-se principalmente no norte da Europa no período Barroco (séc. XVI-XVIII). Surgiram sob influência religiosa, em decorrência de pensamentos filosóficos contemporâneos e de antigas tradições. Geralmente, são representadas por meio da natureza-morta. É comum a aparição de objetos como: caveira e ossos humanos, flores e frutas putrefatas, ampulhetas, conchas, velas, livros, instrumentos musicais, moedas, joias, coroas, entre outros. Entretanto, o crânio é recorrente na maioria das composições alusivas à morte, inclusive nas pinturas vanitas. Verifica-se ainda que no Barroco - período marcado pela constatação da transitoriedade da vida e pela ponderação sobre os prazeres mundanos - as mulheres eram proibidas de frequentar academias de arte. Contudo, graças à ligação parental com homens, algumas puderam estudar, praticar pintura e produzir vanitas. Logo, o foco da pesquisa foi a análise das caveiras presentes em representações pictóricas vanitas produzidas por mulheres no Barroco. A pesquisa justifica-se por ser interdisciplinar, relacionando Arte, História, Filosofia e Sociologia, com a intenção de dar voz às artistas silenciadas, expondo e analisando suas obras. As reflexões que as vanitas proporcionam são também muito atuais, visto que é recorrente questionar-se sobre a morte e os prazeres mundanos. Os objetivos foram interpretar a simbologia das caveiras considerando o contexto da pintura e considerar aspectos bibliográficos das artistas, a fim de conhecê-las e averiguar as dificuldades enfrentadas em decorrência das questões de gênero. Para alcançar essas proposições, foram lidos artigos e selecionadas duas obras de Maria van Oosterwijck (1630-1693): Vanitas In Still-Life, de 1668, e Vanitas com Girassol e Caixa de Joias, provavelmente de 1665; e de Judith Leyster (1609-1660): Dois Músicos, de 1629, e The Last Drop (The Gay Cavalier), por volta de 1639. As obras foram analisadas inspirando-se no método de Panofsky. Os resultados apontam que as caveiras, as quais servem como um dispositivo direto de associação à morte para o ser humano, podem apresentar diferentes significados em um dado contexto. Relacionando-se com elementos como a coroa de louros, ampulhetas, flores e características como dentes faltando e mandíbula removida, as caveiras produzem um efeito de efemeridade e mortalidade. Além do exposto, as mulheres apresentaram dificuldades para estudar, crescer em sua profissão e assinar suas obras, pois a maioria foi atribuída a outros homens. Assim, depreende-se que a caveira transmite de maneira direta e visceral a mensagem da morte - condição imutável dos seres vivos - e que mulheres costumavam representar as vanitas de forma delicada, por meio de crianças e flores, usando objetos domésticos.


Palavras-chave


Vanitas. Gênero. Caveira.

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