Última alteração: 16-11-2021
Resumo
O mercado editorial contemporâneo tem passado por constantes mudanças, dentre as quais se destacam o surgimento das novas tecnologias e a crescente discussão acerca do respeito à diversidade em todas as esferas sociais. Nesse contexto, o presente trabalho surge da necessidade de identificar a participação editorial no sistema literário brasileiro contemporâneo por uma perspectiva decolonial, a partir das discussões teóricas acerca da decolonialidade propostas por Walter Mignolo (2017), nas quais observa-se a figura do ‘outro descentrado’ reconfigurando sua própria história. Este estudo faz parte do projeto Literatura Brasileira Contemporânea e Decolonialidade (IFRS), cujos objetivos são observar como a literatura brasileira do século XXI resiste e transgride, pela perspectiva decolonial, e promover a reflexão pedagógica sobre o letramento literário. Em uma versão anterior, o projeto pesquisou a participação dos prêmios literários no processo tradutório para a língua inglesa, coletando dados entre os anos de 2011 e 2020. A partir da coleta realizada, e da pesquisa de caráter qualiquantitativo, buscou-se analisar de forma crítica a presença de editoras independentes no sistema literário brasileiro atual, tomando com base obras finalistas e vencedoras de prêmios literários de abrangência nacional e internacional, a fim de perceber sua inserção e representatividade ao longo da última década. Por meio da análise parcial realizada, percebe-se um crescimento gradual da diversidade nos prêmios literários, bem como uma grande variedade de editoras independentes dentre trabalhos finalistas e premiados. Mesmo com uma média de participação como finalistas 27,25%, o total de editoras independentes é apenas cinco números menor do que as não independentes, com sessenta e sessenta e cinco aparições, respectivamente. Quanto à análise por ano, nota-se uma tendência positiva em relação às editoras independentes. No ano de 2018, a presença delas como finalistas foi de 46,2% e, em 2020, foi de 40,7%, chegando perto da metade das participações totais. Partindo da perspectiva decolonial, pode-se perceber como uma causa dessa tendência ascendente a característica disruptiva associada às produções literárias independentes. Enquanto editoras tradicionais, como a Companhia das Letras, trazem autores já consagrados para suas edições, a exemplo de Chico Buarque e Luiz Ruffato, editoras independentes possuem autores ainda não tão difundidos, com propostas tantas vezes marginalizadas, característica fundamental da decolonialidade. Como resultados parciais, percebe-se um cenário propício ao desenvolvimento de novas possibilidades editoriais que busquem atrelar ideais decoloniais às suas trajetórias; também fica explícita importância dos prêmios literários como medidores do sistema literário atual. Por fim, percebe-se a necessidade de mais estudos desta natureza, que busquem compreender as movimentações e os desdobramentos do mercado editorial, bem como do sistema literário como um todo, a fim de divulgar tendências não canônicas e o fazer científico pelo viés cultural.