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Os blocos de sensação, a escuta e a timbragem no rock independente de Supervão
Juliana Henriques Kolmar, Marcelo Bergamin Conter

Última alteração: 19-11-2021

Resumo


No livro "O que é a filosofia?', Deleuze e Guattari reconhecem na arte uma capacidade singular de conservar perceptos e afectos, isto é, percepções e afecções que foram arrancadas dos objetos, dos estados, daqueles que as experimentam, e tornadas independentes. Como consequência, ela conserva blocos de sensação na matéria. Tais blocos se formam nas obras artísticas através dos meios e materiais envolvidos para sua composição. No universo da música, o rock independente é particularmente interessante para observar tal capacidade. Conforme David Blake, este gênero musical não se organiza por sonoridades identitárias, mas por heterogeneidade timbrística, visto o interesse tanto dos músicos quanto da audiência pela riqueza textural, emprego de equipamentos moduladores de sinal sonoro e ênfase em passagens instrumentais em detrimento da letra. Logo, nos interessa pensar no timbre em sua capacidade de diferenciação, de expansão de possibilidades sonoras e sígnicas para o rock independente. Nosso objetivo é entender o papel das timbragens na formação de blocos de sensação que induzem músicos e audiência a estados de alteração de percepção similares ao êxtase e ao transe. As timbragens ainda seriam responsáveis por potencializar sentidos e criação de perceptos e afectos durante performances musicais. As teorias do afeto são chave para este estudo, além de nos fazer voltar a atenção para a materialidade do evento musical e a semiose que decorre da atualização dos timbres. Para desenvolver o presente trabalho, observamos os processos de singularização via timbragem desenvolvidos pela banda gaúcha Supervão em suas performances ao vivo, bem como aqueles descritos nos depoimentos e em entrevistas realizadas com os membros da banda. A análise concentra-se nos primeiros minutos de uma performance da Supervão no Centro Cultural São Paulo, em 2019. O trio cria lentamente um território sônico através de drones no tom de Sol maior pelo baixo, guitarra e sintetizador, seguidos de elementos percussivos e da voz de Mario Arruda. Cada elemento sonoro é empregado, primeiro, de forma mais rarefeita, aumentando sua participação na duração da música até que a composição atinge um ápice de complexidade textural por meio de loops, samples, efeitos de reverberação e delay. Tudo isso contribui para a instauração de um território de significação, como se preparasse o espectador para uma escuta mais concentrada para se deixar levar pelos afectos e perceptos dos timbres. A partir destas constatações, descrevemos na análise os processos de singularização via timbragem que emergem das canções. Sugerimos que os signos emergentes das timbragens na obra da Supervão criam uma comunicação menor, cuja expressão afetiva aponta para a capacidade de engendrar, aquém de toda forma logocêntrica, novos mundos sônicos possíveis.


Palavras-chave


Timbre. Escuta. Teoria dos Afetos.

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