O presente trabalho é parte do projeto de pesquisa “Recepção de Cortázar no Brasil”, realizado desde 2019, que tem por objetivo pesquisar a recepção crítica da obra do escritor argentino Julio Cortázar nos principais periódicos brasileiros. Esta pesquisa se justifica pela busca de um entendimento mais aprofundado acerca de como a crítica brasileira recebeu a obra desse autor tão relevante da literatura hispano-americana, considerando que sua presença deu-se, de maneira mais significativa, depois do chamado Boom Latino-americano. Sob posse da catalogação das menções ao escritor, relativas às décadas de 1960 e 1970, em periódicos nacionais, feita ao longo do projeto através de pesquisas em hemerotecas digitais, foi iniciado o processo de transcrição e análise das menções diretas ao autor e sua obra. Neste trabalho, a análise se deteve nas três primeiras menções, que se referem à obra “O jogo da amarelinha”, publicada em 1963. O primeiro desses textos diz respeito a uma análise de Haroldo de Campos do romance em uma coluna do jornal “Correio da Manhã”, e as outras duas menções são respostas a essa coluna, publicadas no “Jornal dos Sports”, todas as três no ano de 1967. A partir do estudo realizado até o momento, foi possível identificar que muito da análise proposta por Haroldo de Campos é embasada nas concepções concretistas do escritor e que a reação, em certa medida, negativa a essa interpretação também se deve à rejeição ao movimento concretista. Além disso, é notável o quanto a estrutura inovadora do romance de Cortázar chamou a atenção da crítica, sendo mencionada e discutida nos três textos, tanto por aqueles que admiravam-na por seu caráter renovador, quanto pelos que julgavam-na mera invencionice formal que resulta em um prejuízo à inteligibilidade do romance. Dada a quantidade de dados catalogados, a pesquisa não se esgota com este trabalho; contudo, esta análise permitiu vislumbrar, ainda que parcialmente, como se deu a recepção dos textos do autor no país e como, para além de sua obra, as posições e ideias de Cortázar também ecoaram entre os críticos brasileiros.