A viagem do naturalista francês Auguste Saint-Hilaire pelo Rio Grande do Sul e Uruguai, realizada entre 1820 e 1821, resultou em registros interdisciplinares de importante valor como fonte de pesquisa para a história e a botânica, especialmente, mas também à antropologia, à geologia, à biologia e às demais ciências da terra, por exemplo. Daí o interesse do programa EcoViamão no evento histórico e sua ressignificação na atualidade. Aos registros que produziu do trajeto entre Torres e Tramandaí, por exemplo, podem ser relacionados estudos mais contemporâneos que de algum modo atualizam os sentidos resultantes das observações do botânico, como é o caso do conhecimento atual sobre os efeitos das duas últimas grandes transgressões marinhas ocorridas no litoral Sul do Brasil, referidas pelo pesquisador Rualdo Menegat (UFRGS) no Atlas Ambiental de Porto Alegre. A última delas, há cinco mil anos, deu passagem para a Mata Atlântica, que se expandiu até o extremo Sul, trazendo para a paisagem gaúcha a espécie arbórea “figueira nativa” (Ficus sp.) e diversas outras. Do ponto de vista antropológico, os registros do botânico revelam a diversidade da população da época,  a forte presença negra e o drama da questão indígena vivido com forte intensidade naquele momento, tendo em vista o envolvimento de grandes contingentes de guaranis, charruas e minuanos nos exércitos de Artigas, vencidos em janeiro de 1820 na batalha de Taquarembó (Uruguai). Nesta mesma linha, os apontamentos que Saint-Hilaire faz sobre a população de Porto Alegre e sobre a grande presença negra, em comparação com estudos contemporâneos sobre a escravidão e sobre a participação dos negros na contrução histórica da cidade, revelam uma nova perspectiva para a compreensão deste fenômeno histórico, ampliando também os horizontes para a compreensão e releitura dos registros do viajante francês, a partir de uma mirada atual. Parte importante destes estudos estão registrados numa série de podcasts produzidos para os canais História de Viamão e EcoViamão, reproduzidos também pelo site www.viamaoantigo.com.br.