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TECNOCOLONIALISMO, IMPROVISOS E GAMBIARRAS: AGENCIAMENTOS DA PRECARIEDADE NO TIMBRE DOS ARTISTAS DO ROCK INDEPENDENTE BRASILEIRO
Última alteração: 12-01-2021
Resumo
O presente trabalho é um recorte da pesquisa "O timbre como afeto no rock independente brasileiro: uma abordagem semiótica", que busca compreender como o timbre, na música, é capaz de comunicar através de processos afetivos, não se limitando apenas a ser um transmissor de emoções, mas também agindo como um produtor de diferença na música, como um signo semiótico. Para o excerto atual, buscamos compreender os desdobramentos afetivos (tensionamentos, enjambres, improvisos e gambiarras) que os agenciamentos da precariedade geram na obra dos artistas analisados. Designamos como tecnocolonial (apoiados nos estudos de som e etnomusicologia) o cenário de produção musical brasileiro, que apresenta uma forte dependência tecnológica dos equipamentos desenvolvidos no norte global. Este aspecto é observável em pelo menos dois estratos: (1º) nos instrumentos musicais dos artistas (guitarras, baixos, teclados, etc) e nos moduladores sonoros e outros componentes necessários para a produção musical (pedais, amplificadores, microfones); e (2º) nos equipamentos e programas de mixagem e masterização digitais (DAWs, VSTs e plugins). Assim, torna-se possível analisar exemplos, nas obras dos artistas que compõem nosso corpus de como essas situações limites impostas pela realidade terceiro mundista se manifestam na produção musical dos artistas durante (1º) a composição e gravação e (2º) na mixagem e masterização. Para tanto, nos apoiamos nas teorias dos afetos, na análise da obra de artistas e no mapeamento dos materiais coletados da internet. Incluindo principalmente entrevistas semiestruturadas realizadas pelo grupo de 2018 a 2020 com artistas. todos entrevistados e analisados neste trabalho compõem bandas nacionais, ativas entre os anos de 2015 e 2020 e integram o circuito independente do rock. Como resultado parcial, observamos que no estrato da composição e produção, é comum no universo da música independente a necessidade de realizar enjambres e gambiarras em instrumentos de segunda mão, visto que o custo para adquirir instrumentos de desejo é enorme e inacessível para boa parte dos músicos. Já no estrato de mixagem e masterização, notamos que os músicos adotam diferentes estratégias amadoras ao realizarem eles mesmos esta etapa, que geralmente é realizada por produtores de som em estúdios profissionais. Os próprios músicos mixam suas peças em softwares e simulam instrumentos orgânicos com plugins digitais por limitações orçamentárias. Como considerações parciais, ao observar como estes processos afetam a sonoridade das bandas, o que contata-se até esse estágio da pesquisa é a confirmação da hipótese que a precariedade tem uma agência importante na obra dos artistas analisados.
Palavras-chave
Teoria dos afetos. Tecnocolonialismo. Timbre
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