Última alteração: 18-12-2019
Resumo
O projeto a cosmologia das práticas curativas: um estudo sobre pessoa, cultura e natureza procura recuperar saberes tradicionais e populares através das memórias sobre os usos das plantas curativas na região de Porto Alegre, RS. A partir do mesmo, pretendemos reconstruir memórias das relações tecidas entre as pessoas, a cultura e a natureza, visando à desvalorização desses saberes pela ciência e pela indústria médica. A história da utilização das plantas medicinais começa a ser registrada com os relatos de viajantes que chegavam às Américas no contexto da conquista e exploração do continente. Entre as populações nativas, porém, os conhecimentos não recebiam registro escrito, sua forma de transmissão ocorria através da figura do Pajé e de geração para geração. Com a chegada dos portugueses e com a diáspora Africana, foram agregando novos saberes que resultam em uma medicina popular e tradicional. Com o passar do tempo, os usos das plantas e ervas curativas foram sendo incorporados aos rituais religiosos de matriz africana. Dentro das religiões afro-brasileiras cada planta representa uma divindade. Já no Brasil Império, o estado brasileiro passa a criar legislações que deslegitimam o uso das plantas em rituais de cura. Esta deslegitimação aumenta com o processo de industrialização e as áreas urbanas. O domínio da ciência como verdade absoluta, fez com que essas sabedorias populares e tradicionais passassem a ser tomadas por charlatanismo sem vínculo real com a possibilidade de cura. O objetivo do trabalho é fazer um resgate histórico dessas experiências tradicionais. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica referente ao tema para termos uma base teórica. Após, realizamos entrevistas com pessoas da comunidade da Restinga que ainda guardam esses conhecimentos. Também visitamos agricultores da zona rural de Porto Alegre, onde pudemos aprender mais sobre esses saberes e conhecer outras formas não convencionais de utilizar essas plantas, ligadas à Agroecologia. Visitamos ainda o quilombo dos Alpes onde pudemos saber mais sobre os conhecimentos das ervas com a mestra Janja. De forma geral, nossa pesquisa se baseou em métodos qualitativos. Como resultados parciais, podemos dizer que os saberes das plantas, tanto relacionados às práticas medicinais como religiosas, levam junto consigo toda uma história, uma cultura dos nossos antepassados, faz parte de uma tradição familiar, carrega a relação de cuidado com o outro, e com a natureza. A perda dessas sabedorias reaviva as práticas individualistas, leva à perda da empatia e ao descuido com a biodiversidade.