Última alteração: 06-12-2019
Resumo
Quem lê literatura sul-rio-grandense no Rio Grande do Sul? Este estudo busca responder isto, investigando o horizonte de leitura do leitor gaúcho e averiguando se nele estão presentes as obras publicadas contemporaneamente no estado. Para isso, parte-se de um mapeamento dos últimos quarenta anos de produção literária regional, organizado entre 2016 e 2018 pelos pesquisadores e que mapeou 939 escritores. Com estes dados, elaborou-se um questionário que traçasse dos participantes os hábitos de leitura e o conhecimento de autores e obras gaúchas atuais, com o intuito de verificar quais escritores do mapeamento estariam, também, sendo lidos. Demonstra-se, assim, a natureza exploratória com amostra não-probabilística intencional por acessibilidade de nossa pesquisa. Escolhemos, por meio de prévia consulta ao estudo Retratos da Leitura no Brasil (FAILLA, 2016), o meio universitário como locus da aplicação do questionário. Isto pois a pesquisa citada observou a presença de 82% de leitores dentro do ensino superior, 28% destes leitores por motivos de “adquirir conhecimentos gerais e culturais” e 20% “pelo simples gosto da leitura”; tal porcentagem é maior do que a de qualquer outra escolaridade. Acredita-se, assim, que a universidade atua como um congregador de leitores, e apesar de não ser retrato fidedigno da sociedade como um todo, mostrou-se, por isso, um ponto de partida interessante para a coleta de dados. Nos resultados houve, dentre os livros atualmente sendo lidos pelos participantes, uma presença significativa de obras internacionais e de alta popularidade comercial, de obras acadêmicas e de obras canônicas; as obras e autores gaúchos citados, em sua maioria, pertenciam à lista de leituras obrigatórias do vestibular da UFRGS dos últimos cinco anos e, quando não isso, eram autores consagrados por outros meios, como popularidade jornalística, adaptação de sua literatura à miniséries e sucesso comercial nas livrarias. Os pesquisadores, agora, averiguam estes motivos que levaram alguns autores a serem mencionados e outros, nem tanto; centrando a análise, neste recorte, no trio de autores com alguma ligação ao Grupo RBS que foram citados no questionário (Luis Fernando Veríssimo, David Coimbra e Martha Medeiros). Investigam, neste gesto, a forma como literatura e mercado unem-se para determinar o consumo do leitor gaúcho, identificando que uma estrutura de poder predeterminada configura certo renome a um autor dentro do sistema literário, na forma de um sobrenome já célebre e/ou maior espaço midiático. Neste sentido, provoca-se: qual espaço resta para os outros 900 autores gaúchos fora desse prestígio?