Última alteração: 06-12-2019
Resumo
O trabalho, vinculado ao projeto de pesquisa Análises espectrais de sonoridades no rock independente brasileiro, pretende recriar em laboratório práticas de modulação sonora de guitarristas, baixistas, tecladistas e vocalistas desse gênero musical, testando instrumentos musicais, técnicas de microfonação, pedais de efeito, mixagem e masterização. Nos baseamos na tese de doutorado A new approach to the analysis of timbre, da musicóloga norte-americana Megan Lavengood. Seu trabalho consiste em desenvolver um novo método para a análise do timbre, reconhecendo na área da teoria musical duas abordagens recorrentes para análise do fenômeno, sendo uma delas a observação de como fonografias se comportam em espectrogramas e outra focando em aspectos culturais do timbre. Por sonoridade, entende-se, na maior parte das vezes, o conjunto de instrumentos que são mais empregados por determinado gênero: poderíamos dizer que guitarra, baixo e bateria juntos conformam a sonoridade típica do rock. No entanto, entendemos que há gêneros musicais em que tal noção não se aplica adequadamente. Geralmente, bandas de rock independente (tratam-se de grupos que estão à margem dos grandes selos) estão mais interessadas em criar sonoridades que lhes são próprias e que se formam dentro de cenas musicais bastante específicas local e temporalmente. Há uma dimensão cultural na interpretação dos timbres que é preciso, portanto, considerar durante as análises. Como estudo de caso, observamos a música Sideral, do conjunto My Magical Glowing Lens, gravada em 2017 e lançada de forma independente. A canção foi analisada através da recriação em laboratório do som da guitarra em comparação com a original. Em relação às versões de laboratório, regravamos usando os mesmos efeitos da original (fuzz, distorção, phaser e reverb), mas também versões sem efeitos, para melhor encontrar no gráfico o registro melódico da guitarra, para demonstrar como os moduladores modificam drasticamente a sonoridade destes instrumentos. Os registros foram processados pelo software gratuito Sonic Visualiser, que gera infográficos de parciais harmônicas, linhas melódicas e picos de frequência. A partir das regravações, foi possível observar isoladamente a linha sonora da guitarra no espectrograma, enquanto que no original ela se mistura com os demais instrumentos. Como resultado final do projeto de pesquisa, esperamos reconhecer os processos comunicacionais singulares que são gerados através das sonoridades particulares desenvolvidas no rock independente. Esperamos desenvolver outra noção de sonoridade, uma vez que compreendemos que um dos fundamentos do rock independente é a capacidade de cada banda produzir seu próprio modo de se comunicar através de sonoridades particulares.