Última alteração: 26-09-2017
Resumo
O presente trabalho desenvolveu-se por meio de resultados parciais obtidos através do projeto de pesquisa Moda, Arte e Gênero: algumas interações possíveis, com foco no costureiro artista Paul Poiret, autointitulado o “libertador das mulheres” em relação ao espartilho. Este, tornou-se conhecido por revolucionar o mundo da moda, ao propor uma nova abordagem estética – com formas amplas e confortáveis – em aversão a linha ampulheta da época. Para tanto, a pesquisa fundamenta-se em uma análise do contexto social, econômico e cultural deste período, assim como as criações de Poiret. Partindo desse objetivo as fontes escolhidas foram, inicialmente, textos bibliográficos. Já as fontes primárias fundamentaram-se em imagens de moda da Bela Época e das coleções propostas pelo estilista. Considerada a era de ouro, a Belle Époque representou o período de 1890 até 1914, tendo como ideal de beleza linhas curvas, com ombros e quadris volumosos e uma cintura extremamente fina obtida com auxílio do espartilho. Inspirado nas cores, formas e tecidos do orientalismo, Poiret modificou a silhueta da época, propondo formas soltas, linhas retas e sem exageros – chamando para si o mérito de sozinho, ter libertado as mulheres de seus espartilhos. Entretanto, essa reformulação na moda entrou em voga somente com a chegada da Primeira Guerra Mundial, pois a necessidade de trabalhar fez com que a mulher não pudesse mais se prender a formas rígidas, então o espartilho cai em desuso. Além disso, a criação da saia entravées, que impedia passos maiores que oito centímetros, aboliu qualquer intuito de libertação feminina proposta por Paul Poiret, o que leva a conclusão de que seu objetivo era a penas estético e sua inspiração oriental foi mais determinante que sua intenção de libertação. Liberar as mulheres do espartilho foi um processo cultural longo, que, sem dúvida, teve seu início com os movimentos críticos ao seu uso em meados do século XIX, passando pelo impacto dos figurinos e da corporalidade do balé moderno (Ballets Russes, Isadora Duncan etc.), o contínuo processo de envolvimento das mulheres em esportes (tênis, bicicleta, equitação, ciclismo, golfe etc.) e seu avanço no espaço público. Portanto, Poiret não é o único responsável por retirar o espartilho das roupas femininas e alterar sua silhueta, mas todo um encontro de inúmeros campos gerou várias transformações socioculturais, às quais o costureiro foi sensível, a partir do que adaptou a mudança para o universo da moda.